Engenharia da Qualidade



Para a Engenharia de Produção, dois eventos históricos são bastante decisivos: a Revolução Industrial e as guerras Mundiais, sobre tudo a segunda. Para a área de Engenharia da Qualidade não é diferente. No decorre do tempo a abordagem da qualidade foi sofrendo modificações, refletindo o amadurecimento das organizações para os conceitos e aplicações da qualidade e suas ferramentas, dividindo-se em quatro “eras da qualidade”, é percebido que com o desenvolvimento da qualidade nas organizações foram trazidas características advindas de antigos modos artesanais de produção para as grandes e indústrias e corporação, através da valorização da opinião e da necessidade dos clientes.
Antes de explanar sobre as eras da qualidade é importante saber que não há um consenso definido sobre o conceito de qualidade, devido sua abrangência e complexidade, todavia David Garvin classificou a qualidade em relação a cinco abordagens: abordagem Transcendental, qualidade como sinônimo de excelência inata; Baseada no Produto, a partir das características mensuráveis do produto; abordagem no usuário, a dimensão subjetiva da qualidade, pois a qualidade irá depender do usuário de forma relativa ao seu gosto e/ou aplicabilidade; abordagem baseada na produção, produto de qualidade é aquele que atende as especificações, ou seja, apresenta conformidade com o projeto; e por ultimo a abordagem baseada no valor, a qualidade é diretamente proporcional ao preço.
Carvalho (2008), inicialmente o conceito predominante na área da qualidade era a inspeção, sendo assim havia uma abordagem predominantemente corretiva e toda a produção era vistoriada e caso houvesse alguma não conformidade partia-se para a correção da mesma.
Conforme Carvalho (2005), na década de 1920, Walter A. Shewhart, implementou conceitos e ferramentas de controle estatístico e o conceito de melhoria contínua com criação dos gráficos de controle estatístico do processo e o ciclo PDCA (plan-do-check-act) o que possibilitou a era de Controle da Qualidade. Na década de 1930, iniciou-se a normalização para a qualidade com surgimento de normas americanas e britânicas de controle estatístico da qualidade, a American War Standards Z1.1-Z1.3 e a British Standard BS 600. Na década de 1940 sugiram as primeiras associações voltadas para qualidade nos Estados Unidos: Society of quality enginers (1945), a American Society for Quality Control - ASQC (1946), atualmente American Society for Quality – ASQ. A criação e do desenvolvimento dessas entidades mostra a importância que a área da qualidade foi gerando no ambiente organizacional.
De acordo com Carvalho (2008). A terceira era da qualidade ficou conhecida como Garantia da Qualidade, na década de 1950. Graças a abordagem sistêmica proposta por Armand Feigenbaum, conhecida como Controle de Qualidade Total (Total Control Quality – TQC), o diferencial dessa abordagem foi o envolvimento de toda a organização e não a apenas o setor produtivo, isso influenciou profundamente as normas da International Organization for Standartization (ISO), a série ISO 9000 surgiu em 1987, denominada sistemas de garantia da qualidade.
De a cordo com Carvalho (2005). A atual era da qualidade é conhecida como a era da Gestão da Qualidade, foi iniciada no Japão no período pós-guerra, quando especialistas americanos como W. Edwards Deming e Joseph M. Juran, participaram da reconstrução do país, onde foram difundidos conceitos e da qualidade. O modelo japonês, controle de qualidade por toda a empresa (Company Wide Quality Control – CWQC), incorporou vário elementos da qualidade total, todavia enfatizou à aversão ao desperdício e a melhoria continua (kaizen ) e tendo forte participação dos colaboradores e fortalecimento e alianças com a rede de fornecedores (keiretsu). A atual era da qualidade firmou essa área como um grande fator para a competitividade das organizações e deu força para a opinião do consumidor.

Gestão da qualidade

Com o desenvolvimento da qualidade e a crescente importância dada pelas organizações nessa área, a qualidade se tornou um dos meios de concorrência de mercado. Segundo Carvalho (2008) as principais características da gestão da qualidade são: o comprometimento da alta administração; participação dos trabalhadores; foco nos clientes; gestão da cadeia de fornecedores; gerenciamento de processos e melhoria contínua.
Há vários modelos de implementação de sistemas de gestão e controle da qualidade, é papel de um engenheiro de produção escolher ou mesmo adaptar um modelo que mais se adeque a suas necessidades. O modelo de gestão da qualidade, como visto, consiste na quarta era da qualidade que foi iniciado na década de 1950 com a reconstrução da indústria japonesa com apoio de estudiosos como Deming e Juran.
A gestão da qualidade no mundo atual possui uma importância vital para as organizações, por isso que em há vários prêmios de excelência em gestão da qualidade, o primeiro deles foi o Prêmio Deming (1951) criado no Japão, na década de 1980 nos Estados Unidos foi criado o Prêmio Malcom Baldrige (1987), em 1991 o Prêmio Europeu de Qualidade e no Brasil o Prêmio Nacional da qualidade em 1992.

Planejamento e Controle da Qualidade

Como visto, Walter A. Shewhart foi um dos pioneiros na aplicação de ferramentas estatísticas no processo produtivo entre a década de 1920 e 1930, criando o conceito de Controle Estatístico da produção (CEP). A implantação dessas ferramentas possibilitou às organizações e controle dos resultados gerados em seus processos de produção o que possibilitou um planejamento de praticamente toda a cadeia produtiva.
O planejamento e controle da qualidade possuem influencia decisiva em praticamente todos os setores de uma organização, desde o desenvolvimento de uma cadeia de fornecedores, engenharia de produto, pesquisa operacional a engenharia organizacional.
De acordo com Carvalho (2008), Kaoru Ishikawa teve um importante papel na difusão de ferramentas e técnicas de análise para solução de problemas, sobre tudo as sete ferramentas da qualidade, que são: diagrama de Pareto; diagrama de causa-efeito; estratificação; histograma; lista de verificação; gráficos de controle; diagrama de correlação. Essas ferramentas auxiliam na identificação das etapas do processo onde se originam gargalos e /ou não conformidades no produto/serviço, portanto são essenciais na elaboração do controle e planejamento de sistemas de gestão da qualidade.

Normalização, Auditoria e Certificação para a Qualidade

Conforme Carvalho (2005). Com o aumento da complexidade de cadeias produtivas e a globalização, se fez necessário a utilização de sistemas normatizados da qualidade. Algumas padronizações propiciadas por Henry Ford para a viabilização da linha de produção, com relação a intercambiabilidade de peças trouxeram um grande avanço para o desenvolvimento de cadeias produtivas. A partir disso houve a necessidade de estabelecer normas para o processo produtivo e sobre tudo com relação a qualidade dos recursos produzidos.
Em 1987 surge a primeira versão das normas ISO 9000, sistemas de garantia da qualidade, a certificação nessas normas tornou-se requisito para ingressar na cadeia fornecimento de vários tipo de indústria, como a automotiva, avião e mineração.
Atualmente a norma está na quarta revisão ISO 9001:2008, Sistema de Gestão da Qualidade, perceba que a norma mudou seu foco com a mudança da “era da qualidade”, de acordo com Slack (2006), apesar da certificação e ser requisito para ingresso em algumas cadeias produtivas e de se fazer uma auditoria rigorosa na organização, muitas empresas ao se certificarem tiveram prejuízos ou não obtiveram resultados aparentes em seu sistema de produção, sobre tudo nas primeiras versões da norma. Isso se deve em parte ou a má aplicação dos métodos ou o não acompanhamento efetivo da adaptação dos conceitos da norma a especificidade da atividade de cada organização, pois as normas são de caráter generalista, cabendo a cada organização a sua adaptação sem alteração da essência dos procedimentos normatizados.
Uma metodologia bastante difundia atualmente, em grandes corporações é o 6 sigma, que surgiu na Motorola na década de 1980. Essa metodologia tem objetivo de fornecer serviços/produtos aos clientes próximos da perfeição, usando um ciclo esquemático de ferramentas estatísticas, chamado DMAIC (Define; Measure; Analyse; Improve; Control), definir, medir, analisar, melhorar, controlar. Um dos objetivos desse programa é a redução para 3,4 defeitos por milhão, além da prioridade clara com relação a qualidade essa metodologia também prioriza a área financeira.
No geral é um grande desafio para as organizações estabelecerem normas e auditorias internas constantes para uma certificação, principalmente quando essa implementação modifica algum aspecto cultural presente, é uma das atribuições da engenharia de produção viabilizar a inserção de organizações em procedimentos normatizados, projetando e prevendo todo o comportamento da organização e os resultados de uma certificação.

Organização Metrológica da Qualidade

Quando Henry Ford, no início do século XX, padronizou vários componentes de seus produtos, viabilizando a linha de produção, em síntese foi promovida uma padronização metrológica das peças permitindo sua intercambiabilidade, como elas passaram a ter dimensões padrões poderiam ser aplicadas ferramentas de controle estatístico, que por sua vez possibilitou a geração de informações sobre sua confiabilidade e qualidade.
De acordo com Batalha (2008) a organização metrológica da qualidade se alicerça em um sistema de padrões de medição internacionais e nacionais. Então é de grande importância a constante calibração e aferição dos mecanismos de medição para o sistema de produtivo, para garantir que os bens/serviços gerados estejam dentro dos padrões de tolerâncias estabelecidos para manter a conformidade para com o projeto.

Confiabilidade de Processos e Produtos

O que é um produto confiável? Os carros japoneses e os alemães são os mais confiáveis! Muitas vezes perguntas sobre confiabilidade são respondidas com base em parâmetros ou mesmo produtos que tem sua confiabilidade reconhecida. Segundo Batalha (2008, p.72) “A confiabilidade pode ser definida como a probabilidade de um item (produtos, serviço, equipamento) desempenhar a função requerida, por um intervalo de tempo estabelecido, sob condições definidas de uso (ABNT, 1994, NBR, 5462).”
A confiabilidade de um produto/serviço deve ser definida, desde os atributos de seu projeto à conformidade em relação ao mesmo, pois é necessário conhecer o produto para definir os padrões que determinarão sua confiabilidade. De acordo com Carvalho (2005), um dos parâmetros mais utilizados como medida de confiabilidade é tempo médio para primeira falha, o tempo médio entre falhas, tempo médio de reparo e taxa de falhas pelo tempo.
A Nasa na década de 1960, utilizando dos parâmetros de medição de confiabilidade criou um método analítico para determinação e analises de falhas chamado Failure Mode and Effect Analysis – FMEA, análise dos modos e efeitos das falhas, que consiste basicamente na identificação dos modos de falhas potenciais assim como suas causas e efeitos potenciais.
Em síntese, o estudo da confiabilidade é de grande importância para o desenvolvimento de novos produtos e para inserção desses produtos em mercados cada vez mais competitivos e exigentes. Mesmo que um engenheiro de produção não atue especificamente na área da qualidade é de fundamental importância que ela seja sempre considerada, além das variáveis ambientais, culturais, sociais.

Aplicações



Análise histórica da importância da criação de órgãos de normatização e controle na Europa e no mundo.

Mostra a criação e a importância dos órgãos de normalização e a utilização de paramentos padronizados de medidas e especificações de processos. Resultado na facilitação da integração e comércio tanto no bloco econômico europeu como no mundial, através dos diversos tipos de normalização.




Esse trabalho o foi aplicado em uma metalúrgica da cidade de Juiz de Fora-MG, onde através da utilização do ciclo PDCA e das principais ferramentas da qualidade como: diagrama de Pareto, diagrama de causa-efeito, diagrama de controle dentro outros; possibilitou a identificação e gargalos na produção e melhoria do sistema de produção garantindo resultados otimizados da produção.

Os mesmo conceitos utilizados nesse trabalho podem ser aplicados em diversos setores.




O objetivo principal desse trabalho foi identificar as causa da mortalidade de leitões na suinocultura, aplicando diretamente as ferramentas da qualidade (folha de controle, diagrama de Pareto, diagrama causa-efeito entre outras) e o ciclo PDCA no sistema de produção predominante na suinocultura do Brasil.
Após aplicação desta ferramenta foram identificadas algumas das causa da mortalidade, o que possibilitou a criação de procedimentos visando a melhoria dos resultados.




Este trabalho trata do estudo da utilização e qualidade da agua obtida de poços subterrâneos, usados na agricultura no estado do Piauí, utilizando parâmetros metrológicos e ferramentas estatísticas da qualidade e análise dos sistemas de irrigação vigentes na região. A obra mostrou a viabilidade/inviabilidade de alguns poços para utilização na produção agrícola.


Referências

SLACK, N. et al,  Administração da Produção, edição compacta. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2006. cap. 17 p. 411-440
JURAN, J. M. A Qualidade desde o Projeto, Os novos passo para o planejamento da qualidade em produtos e serviços. 1ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 1992.
CARVALHO, M. M. Qualidade. In: BATALHA, M. O. (Org). Introdução a Engenharia de Produção. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008 – 3ª reimpressão.
CAVALHO, M. M. et al. Gestão da qualidade, Teoria e Casos. 1 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
LEONEL, P. H. Aplicação Prática da Técnica do PDCA e das Ferramentas da Qualidade no Gerenciamento de Processos Industriais para Melhoria e Manutenção de Resultados. UFJF. Juiz de Fora. Jun. 2008. Disponível em:< http://www.ufjf.br/ep/files/2009/06/tcc_jul2008_pauloleonel.pdf> Acesso em : 10 nov. 2011.
ALMACINHA, J. A. Introdução ao Conceito de Normalização em Geral e sua Importância na Engenharia. Inegi. Porto, 2005. Disponível em:< http://www.inegi.pt/instituicao/ons/pdf/JASA-1.PDF>. Acesso em: 10 nov. 2011.
ORO, S. R. Aplicações de Técnicas da Engenharia da Qualidade no Aperfeiçoamentos de um Processo de Produção na Suíno Cultura. Curitiba. UFPR. 9 set. 2010. Disponível em:< http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/24854/dissertacao_Sheila_Oro.pdf?sequence=1>. Acesso em:14 nov. 2011.
ANDRADE JR. A. S. Uso e qualidade da água subterrânea para irrigação no Semi-Árido piauiense. Revista Brasileira de Engenharia Agrícula e Ambiental. Campina Grande. 20 jan. 2005. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/rbeaa/v10n4/v10n4a14.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2011.

 
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